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O Delicado
![]() "Eusebiozinho criou-se agarrado às saias da mãe, das irmãs, das tias, das vizinhas. Desde criança, só gostava de companhias femininas. Qualquer homem infundia-lhe terror. De resto, a mãe e as irmãs o segregavam dos outros meninos. Recomendavam: "Brinca só com meninas, ouviu? Menino diz nomes feios!". O fato é que, num lar que era uma bastilha de mulheres, ele atingiu os dezesseis anos sem ter jamais proferido um nome feio, ou tentado um cigarro. Não se podia desejar maior doçura de modos." | ![]() "E tudo continuaria assim, no melhor dos mundos se, de repente, não acontecesse um imprevisto. Um tio do rapaz vem visitar a família e pergunta: — Você tem namorada? — Não. — Nem teve? — Nem tive. [...]-Vocês estão querendo ver a caveira do rapaz?. Virou-se para d. Flávia: — Isso é um crime, ouviu?, é um crime o que vocês estão fazendo com esse rapaz! Vem cá, Eusébio, vem cá! Implacável, submeteu o sobrinho a uma exibição. Apontava: — Isso é jeito de homem, é? Esse rapaz tem que casar, rápido!" | ![]() "Quando o tio despediu-se, o pânico estava espalhado na família. Mãe e filhas se entreolharam: “É mesmo, é mesmo! Nós temos sido muito egoístas! Nós não pensamos no Eusebiosinho!” Quanto ao rapaz, tremia num canto. Ressentido ainda com a franqueza bestial do tio, bufou: — Está muito bem assim!" |
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![]() "A verdade é que já o apavorava a perspectiva de qualquer mudança numa vida tão doce. Mas a mãe chorou, replicou: "Não, meu filho. Seu tio tem razão. Você precisa casar, sim". Atônito, Eusebiozinho olha em torno, mas não encontrou apoio. Então, espavorido, ele pergunta: — Casar pra quê? Por quê? E vocês? — Interpela as irmãs: — Por que vocês não se casaram? A resposta foi vaga, insatisfatória: — Mulher é outra coisa. Diferente." | ![]() "Iracema. Uma menina de dezessete anos, mas que tinha umas cadeiras de mulher casada. Cheia de corpo, um olhar rutilante, lábios grossos, ela produziu, inicialmente, uma sensação de terror no rapaz. Tinha uns modos desenvoltos que o esmagavam." | ![]() "Começaram os preparativos para o casamento. Um dia, Iracema apareceu frenética, desfraldando uma revista. Descobrira uma coisa espetacular e quase esfregou aquilo na cara de Eusebiozinho: “Não é bacana esse modelo?”. A reação do rapaz foi surpreendente. Se Iracema gostara do figurino, ele muito mais. Tomou-se de fanatismo pela gravura: — Que beleza, meu Deus! Que maravilha!" |
![]() "Uns quatro dias antes do casamento, o vestido estava pronto. Meditativo, Eusebiozinho suspirava: "A coisa mais bonita do mundo é uma noiva!". . Passa-se mais um dia. E, súbito, há naquela casa o alarme: "Desapareceu o vestido da noiva!".[...] E só descobriram o ladrão quando dois dias depois, pela manhã, d. Flávia acorda e dá com aquele vulto branco, suspenso no corredor. Vestido de noiva, enforcara-se Eusebiozinho, deixando o seguinte e doloroso bilhete: "Quero ser enterrado assim"." |
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